sexta-feira, 25 de março de 2011

IX

Surpreendentemente Hugo apareceu aqui em casa novamente no dia seguinte, nunca ele tinha feito isso antes, sempre nos encontrávamos em intervalos de no mínimo três semanas. E lá estava ele com uma caixa de cerveja e um maço de cigarro em mãos batendo em minha porta.
- entre meu amigo. O que o traz aqui?
Ele entrou calado e sentou no sofá, acendeu um cigarro e me passou, acendeu outro para ele. Estava contemplativo, com um olhar vazio e apreensivo, se mantinha quieto e eu não me importava, gostava dos silêncios, mesmo os constrangedores, sempre achei melhor ficar calado à ter conversas triviais que não levariam a lugar algum.
Sentados no sofá olhávamos para a parede quando Hugo irrompeu o silêncio de Coltrane na vitrola para me dizer em voz tremula que tinha com caso com Elisa. Continuei estático tentando processar tudo aquilo enquanto ele me dizia que aconteceu, não foi planejado, que eles se amavam e foram feitos um para o outro e que jamais teria feito algo assim comigo se não fosse tão grande o amor que eles sentiam ou algo do tipo. E desde quando você acredita em amor Hugo, seu filho da puta desgraçado. ‘você não a amava, Elisa era apenas um passa tempo para você, uma distração, nós vamos morar juntos’. Eu andava pela sala indignado, como assim? Ainda esses dias Elisa frequentava minha casa e fundíamos, como assim? Todo esse tempo ela também estava com você?. ‘fui eu quem não deixei que ela te abandonasse, estávamos preocupados com você, você andava um pouco triste por conta de seu aniversário, não queríamos te deixar pior’. Não queriam me deixar pior? Eu o segurava pela gola da camisa e o levantei do sofá, não queriam me deixar pior? Que espécie de presente de aniversário é este? Você está louco? E fui empurrando-o para fora do meu apartamento, vamos saia daqui. ‘desculpa Ian, desculpa não queria que fosse assim, você é meu melhor amigo’. Ele insistia. Dei-lhe um soco no nariz e fechei a porta.
Cai arrasado no sofá, meu corpo não reagia, ainda tremulo e por minha cabeça milhões de pensamentos conflitavam, passavam a mil por hora. Terminei a caixa de cerveja e cai ali mesmo no sofá enquanto o vinil chiava pela falta de música.
Acordei numa ressaca filha da puta e decidi ir trabalhar mesmo assim, minhas faltas já eram de mais e eu corria o risco de perder o emprego. No fim de semana peguei o carro e fui a casa de alguns parentes no interior, um lugar belíssimo cercado por rios e cachoeiras. Minha tia ficou feliz em me ver, fez bolo, café, foi ao mercado e comprou queijo, doce de leite, torresmo e chouriço, preparou minha cama e permanecia o tempo inteiro ao meu lado contando causos de todos os vizinhos, que fulano cresceu e se casou com uma prostituta, que cicrano era casado mais a noite procurava por homens, que Mariazinha engordou como uma porca. Por deus como eu precisava daquilo, ser paparicado, não preparava nem meu próprio pão, tudo sempre estava posto ao meu alcance. Voltei pra casa renovado, porém voltar sempre me traz a estaca zero, como se eu começasse tudo de novo desde de o principio e nunca tivesse saído.

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Fui ao médico por causa de um pequeno corte no dedo da mão, um corte que nem  lembro onde arrumei, provavelmente na ultima noite que Hugo esteve em minha casa, e de repente uma inflamação de  forma surpreendente que começou a se espalhar por minha corrente sanguínea, via seu caminho sendo traçado pelas veias que percorriam meu braço. Na sala de espera uma atendente simpática sorria para mim, a pele bem morena, cabelos lisos e preto, como seu olhos, ela não me parecia dali. Fiquei sentado esperando por alguns minutos e olhava para ela pensando e inventando uma história para sua vida, eu poderia dormir com ela só para que me contasse seus segredos, sua origem, seus sonhos, seus planos. Eu poderia dormir com todas as mulheres do mundo só para desvendar seus mistérios, seus medos e segredos. Não me contive e perguntei, o primeiro diálogo que tive com outro ser humano esses dias
-         Qual é seu nome? – ela me pareceu surpresa com meu interesse por sua vida. Não estava acostumada com tamanha atenção dedicada a uma simples atendente. Costumava passar despercebida, mesmo com um sotaque que denunciava que ela não era daqui.
-         Laila. – ela respondeu acanhada
-         e de onde você é Laila?
-         Tunísia.
-         É um país bem distante, me parece interessante. O que veio fazer por aqui?
Sua história era tão fascinante quanto os traços de seu rosto, peculiar, indefinido, o canto dos olhos um pouco caído, dando um tom de tristeza de alguém que muito sofreu e não desistiu da vida. Não pude ouvir sua história pois a médica me chamou, inventei uma para me consolar. Nunca mais a desde então.
No consultório o olhar de preocupação da médica acabou por me deixar igualmente preocupado, não pensei que um pequeno corte pudesse causar danos tão grande. A inflamação no meu dedo não permitia que o sangue circulasse e ele estava coagulando dentro do meu corpo. Fiz exame de diabete, vacina antitetânica e uma semana de antibióticos e pomada. O que significava uma semana sem beber. Mas que se foda, cheguei em casa e abri uma cerveja

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Desde de o dia de minha conversa com Hugo que só tenho saído de casa para trabalhar, toda minha pequena rotina de cafés, bares e arrumação foram desfeitas, me continha em tomar algumas cervejas em casa enquanto assistia os jogos de futebol, a maconha havia acabado e não me dei ao trabalho de procurar por mais, os cigarros comuns me satisfaziam. Virei um inútil, um parasita. As contas de casa atrasavam e só me dava conta que tinha que paga-las quando cortavam o serviço, ficava em meu sofá, estático perante a televisão e ligeiramente embriagado, no ponto certo para deitar em minha cama e dormir sem pensar na vida.

2 comentários:

  1. Gostei desse capítulo! Essa coisa da traição entre amigos (sobretudo entre homens) é bem louca, é uma coisa difícil e quando rola, impactante...
    Só te diria que esse texto ficou com bastante erros de digitação, parece que você escreveu com pressa, rrsrsrs

    Beijos baby!

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  2. é, eu reli ele aqui e vi os erros, mas fiquei com preguiça de consertar, rs
    é que o word estava programado para espanhol.... ai ficou difícil corrigir com um monte de sublinhado vermelho =)

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